7 de setembro de 2012

Estupidificação consentida


Não sei se é da condição humana ou apenas da condição de ser português, mas quanto mais ouço e vejo, mais confirmo que só damos valor às coisas quando as estamos prestes a perder.
Isso está a acontecer agora com a RTP 2, por exemplo. A maioria da população – e são as estatísticas que o dizem – prefere assistir aos reality shows, mas querem ter a RTP 2 de reserva, para o caso de decidirem cultivar-se um bocadinho.  
Sentados na mesa do café, todos somos cultos e todos nos preocupamos imenso com o serviço público, todos escolhemos os programas que nos podem trazer alguma mais-valia cultural. Todos criticamos o facto de não existirem mais eventos culturais, mais iniciativas.
O grande problema é que a pessoa culta que há em nós fica presa à cadeira do café e quando chegamos a casa ligamos a televisão nos canais que nos mostram programas que não chegam a ser concorrentes dos outros que enaltecemos. Não são concorrentes porque não há qualquer proximidade em termos de conteúdo, no entanto, roubam toda a atenção dos portugueses.
De facto, entre ver um programa da BBC, Vida Selvagem ou a Casa dos Segredos da TVI, não há grande diferença, em termos analíticos. No entanto, o que acontece na prática é a estupidificação consentida dos participantes e o incompreensível interesse de um país inteiro em saber quem dorme com quem ou quem diz o quê. Mas o que raio isso contribui para a nossa felicidade?!
Quando me quero rir, vejo programas de comédia. Algumas pessoas nem devem saber que também há humor na RTP 2. Recuso-me a ver pessoas que entram para uma casa e acham que fazer determinadas figuras lhes vai servir de rampa de lançamento para alguma coisa.
As pessoas cedem ao comodismo nos programas televisivos que escolhem e transportam essas escolhas para a vida real. Não se informam sobre o que acontece à sua volta e quando a informação se esbarra consigo, fecham os olhos. Depois responsabilizam os outros da sua falta de interesse em programas sociais e culturais. Escondem-se no clichê “aqui não se faz nada, não se organiza nada” e deixam-se ficar sentadas à mesa do café.
Vamos continuar a prestar atenção ao que de melhor se faz só quando estão prestes a fechar este ou aquele teatro, aquele ou o outro cinema, ou o canal mais rico que a televisão pública já conheceu.

1 comentário:

domingos dias disse...

Ola Sonia concordo inteiramente contigo...
a RTP2 é sem duvida o canal de televisão que mais se enquadra no serviço publico.
ass. Domingos Dias