Eu não sei que amor é este que me liga irremediavelmente a
esta Terra. Não encontro argumentos racionais suficientemente fortes para justificar
esta necessidade, esta dependência desta Terra. Eu não sei o que é, mas sei que
existe, porque eu sinto-a. Sim, o amor que se tem a esta terra é quase uma
religião.
Quando quis crescer mais um pouco – quando quis continuar a
estudar – esta Terra obrigou-me a deixa-la. Mas sempre que vinha a casa, sempre
que a autoestrada começava a mostrar as placas com o seu nome e sempre que via
os quilómetros de distância a diminuir, eu começava a respirar melhor. Nessa
altura, acreditava eu que estava a colher noutro sítio conhecimentos que
poderia aplicar aqui, conhecimento que poderia pôr ao dispor da minha cidade.
Eu e todos os jovens que, como eu, tiveram de sair para estudar, iríamos voltar
e fazer Amarante avançar de forma consciente, assente no conhecimento das suas
gentes, sem medos, sem interesses, mas com muito Amor. Não voltei. Nem eu, nem
muitos dos que, como eu, saíram para estudar.
Quando chegou a hora de arranjar emprego, Amarante
manteve-me lá fora. E assim passaram sete anos desde que deixei Amarante
temporariamente. Muitos dos que, como eu, a deixaram, não planeiam já voltar.
Perguntam-me: “para quê?”, e eu não sei dar uma resposta plausível. Eu moro
numa cidade que tem todos os serviços, todas as condições e algumas oportunidades,
mas só sonho com o dia em que poderei ter o código postal de Amarante como meu
novamente. Amarante, esta Terra que muitos descrevem como boa para passar a
reforma, como uma cidade sem oportunidades, sem juventude, sem futuro e, mesmo
assim, eu não consigo desejar o meu futuro noutra cidade. Porque nenhuma outra
é a minha. Amarante… este nome lindo, que, ao dizê-lo, parece não terminar.
Amarante…
Sonho com a tranquilidade para mim, sonho poder levar o meu
filho a andar de bicicleta na ecopista e absorver todo aquele verde, respirar
este ar puro. Sonho com as ruas sem trânsito, sonho com os cafés à beira-rio. Sonho
com a oportunidade de poder contribuir com algo para o crescimento da minha
cidade. Porque, por mais tempo que
passe, por mais cidades que cruze, nenhuma delas é a minha. Eu sou o que sou
porque cresci aqui e não noutro lugar. Eu sou o que sou porque foram estas
paisagens, estas ruas e estas pessoas que me rodearam. A esperança não morreu,
nem a minha vontade e de muitos outros apaixonados por esta Terra. Com todo o
potencial que a nossa cidade tem, podemos, e devemos, criar as oportunidades. E
cada um de nós deve dar o seu melhor para agradecer o que esta cidade já fez
por nós, e criar todas as condições para que possa fazer muito mais e muito
melhor por muitos mais.
O Amor faz-me querer mais para minha Terra. O amor faz-me
desejar para Amarante tudo o que ela merece e tudo o que a sua gente merece. O
amor não nos venda os olhos e faz dizer que está tudo bem. O amor não nos faz
conformar com o que está à nossa frente. A verdadeira paixão faz-nos querer tudo.
E eu quero tudo a que Amarante tem direito. E quero poder viver nesta terra que
agora é linda e que, um dia, poderá ser fantástica.
Não façam vista grossa. Queiram tudo comigo.