27 de setembro de 2012

Ele foi embora

Ele foi embora e eu não quis pensar muito nisso. Tenho este estranho mecanismo de defesa que consiste em olhar para as coisas como se elas fossem naturais. Vejo-as a acontecer mas recuso-me a pensar nelas com o coração. Porque isso dói.
Ele foi embora agora, como já tinha ido embora há 3 anos atrás. Mas as distâncias são agora maiores. É a distância física, a psicológica e até a tecnológica. Mas eu argumentei a mim mesma que seria quase a mesma coisa. Mas não é.
O aumento da distância física faz com que queiramos compensar com o aumento da interacção. Queremos ligar mais, escrever mais, ver mais... Quando não conseguimos, a noção das distâncias surge e belisca-me o coração.
Durante a maior parte da minha vida (sim, continua a ser a maior parte), ele foi a minha metade. Quando paro para sentir o tempo, o vazio dói. Ele está longe demais no tempo e no espaço. A sabedoria popular diz que "o tempo cura tudo" e que "longe da vista, longe do coração". Eu recuso-me.
Sempre ansiei para que nos déssemos melhor. Mas eu já não quero. Não são as relações cordiais que nos fazem "dar melhor", são as genuínas, as que nos faziam discutir e até andar à porrada, porque estávamos ali os dois, tal como éramos, de verdade.

Ele já foi embora há muito tempo. Foi embora para nunca mais voltar. A minha dor vem dessa consciência. Crescer fez com que deixássemos de ser a metade um do outro. E por muito que aconteça nesta vida, nunca mais o seremos. E eu tenho pena de não saber o que sei hoje para aproveitar melhor o tempo que passou. Quanto mais cresço, mais o valorizo e melhor o compreendo.

Guardarei todas as recordações com um Amor imenso para contar às seguintes gerações como era ser criança e ter irmãos.

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