12 de junho de 2009

Alienação

Às vezes dá vontade...





Refugiar-me num lugar qualquer, longe da civilização, longe das ambições desmedidas, dos egoísmos incompreensíveis, longe da perversidade humana, longe da realidade social.
Apetece respirar ar puro, apetece fugir.

Sou uma das formigas que vagueiam pelas ruas do Porto. Sem sorriso no rosto, a pensar em como o tempo passa depressa, irritada e ansiosa.
Não olho o céu, não ouço as gaivotas. Não tenho tempo.
Penso no futuro. No que quero fazer, em como quero crescer. Tantas ambições que me fazem querer apressar o Tempo. Vivo em harmonia nesta sociedade cosmopolita e materialista.

Mas não quero.

Estamos tão preocupados com a concretização de sonhos e desejos incertos e efémeros que deixamos escapar o melhor da vida. Preocupamo-nos tanto com o futuro e com o que a sociedade espera de nós, e com a forma como queremos que as pessoas nos olhem, que não vivemos.

Às vezes, dá sim vontade de deixar tudo e alienar-me. Viver plenamente como eu bem entender, sem ter de me subjugar a tanta (des)organização.
Como os hippies.

Mas não conseguiria.

Infelizmente, comprometi-me com o mundo. Inconscientemente, apaixonei-me, de uma forma doentia (como a esposa que ama o marido que a maltrata), pela civilização. Não consigo ir... E assim vou continuar com a dor no peito sempre que passar por um mendigo que vasculha o lixo à procura de comida, ou de um outro que dorme à porta de um prédio enquanto as pessoas passam, alheias ao cenário, pelo hábito.
Eu não quero habituar-me nunca. E não quero que o meu peito deixe de doer.
Um dia, espero que essa dor me dê coragem para agir.

2 comentários:

Francisca Teixeira disse...

e como todas as dores... também essa dor passará um dia e tornar-nos-emos todos seres alienados (de realidades que fazem doer!) aqui dentro deste mundo... a menos que a vontade de viver realmente seja grande o suficiente que faça a coragem ganhar desta vez.

porque daqui a 70 anos (e no máximo dos máximos) seremos todos esquecidos. O nome, a imagem, a ideia que construimos à nossa volta apagar-se-á na memória de toda a gente e ... quem fomos afinal sem nem para nós próprios vivemos?!

ricardo disse...

Nao te conheço sónia, apenas ouvi falar de ti, mas deixa-me já dizer-te que, ao ver o teu blog, dá para perceber que, sem nenhum rodeio, és fixe! Ao contrário da francisca, eu sou um bocadinho mais optimista.
reconheço na vida tudo o que dizes, a dor no peito. a sensação de esmagamento, mas também a vontade e garra incomensuraveis para fazer alguma coisa...um dia. e neste dia reside o problema! quando? alguma vez? será que as amarras que nos prendem não são e serão demasiado fortes? ultimamente tenho sido muito consfrontado com a minha incapacidade de mudar o mundo. Eu nao quero fugir (embora por vezes tambem me apetecça muito), quero que este lugar fique melhor, quero conhecer pessoas que sentem o mesmo, pessoas que sabem do que eu estou a falar, pessoas que queiram mudar. uma das coisas que a minha incapacidade de mudar o mundo, de abrir olhos as pessoas, me tem dito, é: não exactamente a típica história do antes de mudar o mundo teres que te mudar a ti, porque acho que não se trata de uma questão de antes e depois, senão primeiro vivíamos e só depois de mortos podíamos mudar o mundo, porque nunca estaríamos completamente mudados, nunca estaríamos tão perfeitos para ser o exmplo de um mundo mais ou menos podre.mas dizia tenho-me confrontado nao com isto, mas muito mais com o que dizia antónio barreto nos discursos de comemoração do 10 de junho, dirigido aos políticos e dirigentes de Portugal. "o povo precisa de exemplo", dar o nosso exemplo, sentir isto, achar isto, ver que não está bem, já é introduzir no mundo uma voz de desejo de algo diferente, de menos nada e mais tudo. a juntar a isto, a vida vai-nos dar oportunidades para fazer-mos algo mais susbtancial, algo que marque a diferença, que suba a dor no peito a um ponto em que ela própria se torna a tua libertação, e a libertação dela a transformação pretendida. e apesar desta vontade e garra todas, também sei que existem as outras duas (não me estou a lembrar de mais) opções, calar...e fugir...

muito boa sorte para ti e para o blog, continua a mostrar ao mundo o que é escrever simples mas bem!
beijos, um desconhecido (para ti) ricardo