3 de janeiro de 2014

Casa dos Segredos

Quero pedir desculpa aos fãs da Casa dos Segredos pela minha intolerância.
Não, não acho que todas as pessoas que vêem esse tipo de programas são parvas, ou com QI reduzido ou desinteressantes. Não acho mesmo. Não acho porque conheço pessoas inteligentes e interessantes que vêem a Casa dos Segredos. Mas lá está, até os génios fizeram más opções nas suas vidas... "Pronto, lá está ela outra vez!" Não estou nada. Quero apenas explicar a minha repugnância por esse tipo de programas sem ser mal interpretada.

Não tem apenas que ver com a falta de conteúdo relevante no programa ou com a minha falta de interesse por ver um monte de gente dentro de uma casa, tem acima de tudo a ver com a falta de princípios. E não estou a dizer que quem vê não tem princípios, não é isso. A curiosidade faz parte da natureza humana e é um facto que aquelas pessoas se põem voluntariamente a jeito para que lhes vasculhem a vida. Eu estou a falar da gente que produz e emite aquele tipo de programas. Aquela gente sabe que vai usar pessoas de verdade como se fossem bonecos; aquela gente sabe que vai passar conteúdos inapropriados e acessíveis às crianças; aquela gente sabe que há pais que não têm a inteligência de vedar aquele tipo de conteúdos aos filhos; aquela gente sabe que vai passar ao país uma ideia transfigurada de si próprio; àquela gente não interessa o futuro daquelas pessoas, mas apenas como o seu presente e passado podem contribuir para o aumento das audiências; àquela gente não interessa que todo o passado e todos os familiares dos concorrentes seja arrastado pelas revistas e pelas televisões (deixando uma gosma que me dá vómitos), àquela gente só interessa o dinheiro que todo aquele circo vai gerar. O dinheiro não pode justificar tudo.

Compreendo que haja pessoas que conseguem ficar indiferentes a tudo isto. Eu não. Não consigo pactuar com a mesquinhez, o interesse desmedido e inconsequente que alguma gente tem. Não consigo dar valor a pessoas que, com certeza até terão valor, mas se querem dar a conhecer sem valor nenhum. Não consigo assistir a vidas reais serem ultrajadas, mesmo que tenham noção daquilo a que se propuseram. Há limites. E esse tipo de programas ultrapassa os meus em largos quilómetros.
Portugal não é aquilo e mesmo aquelas pessoas não são aquilo. Aquelas pessoas também têm pais e mães e eventualmente filhos, e incomoda-me vê-los como objectos. Peço-vos desculpa, eu compreendo que seja um programa de entretenimento e gabo-vos a capacidade de se abstraírem de toda a máquina que está por detrás do que aparece no ecrã e divertirem-se com aquilo, mas eu não consigo. Gostava de me conseguir rir e deixar de ser uma ovelha tresmalhada que se arma em parva e não quer ver, mas já tentei... Já tentei e não consigo.

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